segunda-feira, 13 de julho de 2009

Atitude

A nega era prosa. Sabe mulherão que tem consciência que é gostosa? Pois é, ela era dessas. Nem precisava alguém dizer, até porque ela fingia que não percebia que era tudo isso. Chegava fingindo ignorar os olhares que despertava. Soltava seu riso fácil e espalhava simpatia pra todos que chegavam perto, mas de longe, sorrateira, filmava tudo.

Encontrou o negrinho do canto. Cara de bobo. Bonzinho que só vendo. Todos os malandros e valentes do samba arrastando o bonde por ela, e o negrinho de óculos tomando sua cerveja discreta no balcão. Nem de longe ele imaginou aquela preta na sua. Enquanto isso, ela já tinha seguido a rota nos seus pensamentos.

Pediu uma cerveja ao seu lado no bar. Com uma mistura inocência e indecência encheu o copo do pretinho, que admirou a sua ousadia. Tomou um gole no mesmo copo do preto e disse no pé do seu ouvido, aproveitando pra sentir o cheiro da sua pele, “isso é pra descobrir o seu gosto”. Deu um sorriso e saiu.

Foi para perto da roda e sambou. Ele sabia que era pra ele. A noite acabou bem. Os dias também. O pretinho com cara de otário fez da preta sua primeira-dama. Mostrou pro samba inteiro a malandragem de entender os sinais do amor. Depois daquela tarde, ela nunca mais bebeu em outro copo que não fosse o do seu homem. Toda bebida do mundo, para eles, agora tinha o gosto bom dos dois.


Xequeré, Quintento em Branco e Preto

3 comentários:

Felipe M Alves disse...

Madou bem Tati.
Parabéns... Ass. Siriema

Diego Rezende disse...

Bom. Muito bom...

Diego

Unknown disse...

Que lindo Tati. Inspiração lá em cima. Adorei.
Beijos, Marcus Vinicius.