quarta-feira, 20 de outubro de 2010

Tarde Pré-Verão

A tarde caiu tão bonita.
Sol frio, amigos de labuta e enterro dos fantasmas.
Samba e sorrisos para comemorar.
Bem que a Beth cantou.


Antes ele do que eu, Beth Carvalho.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Bolsa de investimentos: amor-próprio

Pegou-se “vendendo fácil o que não tinha preço”. Ela não havia percebido, mas no fim do pregão do dia anterior colocou na mesa sua última ação de amor-próprio. O pior é que vendeu na baixa. Não analisou bem o negócio. Não esperou a valorização para conseguir lucrar algo. Os analistas já mostravam que não era um bom momento: baixíssima lucratividade. Mas ela, com saldo negativo na sua conta de auto-estima, não pensou em economia e agiu como uma jogadora amadora e compulsiva apostando no seu pangaré preferido, mesmo sabendo do resultado.

Negociou e ficou ali, paradinha, aflita, torcendo para que o dinheiro se multiplicasse. Todo mundo sabe que não existe mágica. Era óbvio que ela se deu muito mal. Chegou em casa arrasada, nem mesmo conseguiu tomar o etílico duplo que alguém lhe recomendou.

Saiu do banho longo e inerte. Sentou-se a mesa e começou a folhear o balanço. Analisou o histórico da sua empresa. Percebeu que sua conta de amor-próprio sempre fora deficitária, mas como as outras contas tinham saldo muito positivo a empresa sobreviveu até ali. Com empréstimos e mais empréstimos consolidou-se, representando bem para o mercado e apresentando balancetes fraudulentos para toda economia dos sentimentos. Depois dessa baixa, não teve mais jeito, a gestora foi obrigada a encarar: déficit de amor-próprio. Sem investimentos nessa conta a empresa decretaria falecia imediata. O doloroso é que ela não tinha mais verbas para gastar.


Cair em si, Djavan

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Canção do amor demais

Passaram-se anos, vários, todos. O dono da verdadeira trilha da sua “canção do amor demais” ainda não havia chegado.
Ela esperava pacientemente, dias mais, dias menos.
Em tempo nublado sonhava na livraria, no cinema.
Em dias de sol, sonhava entre árvores, calçadas e sorrisos.
Mesmo sem causar alarde, estava sempre alerta,
tão alerta que passava dias e dias a se enganar.


Sou Você – Caetano Veloso

Café

Colocou o café na boca. Ficou estática, não engoliu a bebida que aos poucos tomou-lhe todo o espaço das gustativas, do paladar.
O gosto inundou todos os sentidos.
Congelou o tempo,
o arbítrio,
o prazer,
o olhar,
as batidas,
a vontade,
o brilho.
Mortificou o tudo.


Você não me ensinou a te esquecer - Caetano Veloso.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Travessa Tim

Essa manhã andei pela travessa Tim Maia. Fica no seu caminho, sabia?
Imaginei que você passou por ela minutos antes.
Pude ouvir sua voz resmungando: “só mais 15 minutos...”.
Vi você dormindo de bruços, daquele jeito só seu, todo esparramado e agarrado ao travesseiro.
Admirei sua tatuagem, que me olhava das suas costas.
Senti seu cheiro.
Morri um pouco quando encontrei seus olhos.


Andrea Doria – Legião Urbana

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Santa TPM

Nunca descobrir uma TPM foi tão bom. Passou a semana toda sofrendo, uma dor tão aguda que chegava a machucar o coração, e não era para tanto. Tudo bem que o moço causou sensações a muito esquecidas, mas ela não era de se entregar assim. Andava tudo muito estranho, mas nem passou pela sua cabeça as abençoadas três letrinhas mágicas.

Mil coisas surgiram: sacanagem do destino, desrespeito por parte do mocinho, sincope de rejeição, crise dos 30 e por fim a vestimenta definitiva: fantasia de idiota do aquário. Só quem já vestiu sabe como ela se sentia. Ela já havia provado o modelito aos 18 anos e por isso achou que estava imune à numeração. Nunca caia nessa, essa roupinha sempre tem numeração disponível para todos os manequins, inclusive o seu. Fique atenta. Mas lembre-se também: quem não arrisca, não petisca. Ela arriscou, só não petiscou. Melhor assim, deixou de engordar algumas graminhas, tentou rir da própria desgraça.

Mas todas as linhas acima foram simplesmente para dizer: santa TPM!
Na verdade as pontadas não eram tudo isso, apenas um desfile de formiguinhas cabisbaixas potencializado pelos hormônios.
Ufa, enfim a vida voltava ao normal, pelo menos nos próximos 28 dias.


Desculpe o auê, Rita Lee e Paula Toller

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Nada

Lento, lento, lento...
As vezes as pessoas só esquecem de avisar.


Telefone, Tim Maia

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Quem disse

A trilha do dia era outra.
O texto que chegou a tela pela manhã, trazido pela inspiração da esperança, era outro.
A tarde cai.
A trilha muda. Inusitada.
Quem disse que a vida não é inusitada. Não é mesmo poeta?


Minha - Cartola

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Coisas de mãe

Entregou seu coração no rio dela. Eram águas calmas, cristalinas de fundo reluzente. Foi nele que resplandeceu a beleza do presente que lhe sorria. Mas as águas calmas também têm correnteza, porém leve, delicada, estrategicamente colocada pela natureza no curso para manter a limpidez. Com ela o coração posto foi deslocando-se calmamente, passo a passo, no rumo que Oxum queria e determinava.

Mamãe mirava no seu olho, como que dizendo: confie em mim. O coração rolou cachoeira abaixo. Oxossi, o dono de tudo naquele planeta, quando viu aquilo, soltou o seu ilá no meio da mata e veio buscar. Já avançava rio a dentro para apanhá-lo, quando a esposa segurou sua mão delicadamente, porém com a firmeza que só as mães têm. Ficou muda, mas seus olhos diziam: “Deixa... Confie no amor... Não vamos deixá-la se esconder no mato dessa vez”.

Pela manhã, a filha, que já acordou determinada a correr para sua selva moderna, permaneceu impassível, forte, altiva e independente, tal como o pai. Ao chegar no seu destino, a primeira coisa que fez foi escutar sua mãe cantar. Resolveu escrever para o presente recebido, porém com as letras firmes do pai. A resposta veio imediata, porém com a doçura das palavras plantadas pela mãe. Ela entendeu o recado. Sorriu e agradeceu. Existem lições que só as mães sabem dar.


É D'Oxum, Rita Ribeiro.