terça-feira, 5 de outubro de 2010

Coisas de mãe

Entregou seu coração no rio dela. Eram águas calmas, cristalinas de fundo reluzente. Foi nele que resplandeceu a beleza do presente que lhe sorria. Mas as águas calmas também têm correnteza, porém leve, delicada, estrategicamente colocada pela natureza no curso para manter a limpidez. Com ela o coração posto foi deslocando-se calmamente, passo a passo, no rumo que Oxum queria e determinava.

Mamãe mirava no seu olho, como que dizendo: confie em mim. O coração rolou cachoeira abaixo. Oxossi, o dono de tudo naquele planeta, quando viu aquilo, soltou o seu ilá no meio da mata e veio buscar. Já avançava rio a dentro para apanhá-lo, quando a esposa segurou sua mão delicadamente, porém com a firmeza que só as mães têm. Ficou muda, mas seus olhos diziam: “Deixa... Confie no amor... Não vamos deixá-la se esconder no mato dessa vez”.

Pela manhã, a filha, que já acordou determinada a correr para sua selva moderna, permaneceu impassível, forte, altiva e independente, tal como o pai. Ao chegar no seu destino, a primeira coisa que fez foi escutar sua mãe cantar. Resolveu escrever para o presente recebido, porém com as letras firmes do pai. A resposta veio imediata, porém com a doçura das palavras plantadas pela mãe. Ela entendeu o recado. Sorriu e agradeceu. Existem lições que só as mães sabem dar.


É D'Oxum, Rita Ribeiro.

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