terça-feira, 19 de outubro de 2010

Bolsa de investimentos: amor-próprio

Pegou-se “vendendo fácil o que não tinha preço”. Ela não havia percebido, mas no fim do pregão do dia anterior colocou na mesa sua última ação de amor-próprio. O pior é que vendeu na baixa. Não analisou bem o negócio. Não esperou a valorização para conseguir lucrar algo. Os analistas já mostravam que não era um bom momento: baixíssima lucratividade. Mas ela, com saldo negativo na sua conta de auto-estima, não pensou em economia e agiu como uma jogadora amadora e compulsiva apostando no seu pangaré preferido, mesmo sabendo do resultado.

Negociou e ficou ali, paradinha, aflita, torcendo para que o dinheiro se multiplicasse. Todo mundo sabe que não existe mágica. Era óbvio que ela se deu muito mal. Chegou em casa arrasada, nem mesmo conseguiu tomar o etílico duplo que alguém lhe recomendou.

Saiu do banho longo e inerte. Sentou-se a mesa e começou a folhear o balanço. Analisou o histórico da sua empresa. Percebeu que sua conta de amor-próprio sempre fora deficitária, mas como as outras contas tinham saldo muito positivo a empresa sobreviveu até ali. Com empréstimos e mais empréstimos consolidou-se, representando bem para o mercado e apresentando balancetes fraudulentos para toda economia dos sentimentos. Depois dessa baixa, não teve mais jeito, a gestora foi obrigada a encarar: déficit de amor-próprio. Sem investimentos nessa conta a empresa decretaria falecia imediata. O doloroso é que ela não tinha mais verbas para gastar.


Cair em si, Djavan

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