segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Lembranças

Chegou em casa como de costume. Entrou e recebeu, surpresa, um abraço que sua pele reconheceria a distância. Poderiam passar todos os anos da sua vida, que ela seria capaz de voltar para casa.

Ela sabia que essa certeza rendia ciúme em todos os pares que já passaram em sua vida, mas naquele momento seu coração era tomado de outro sentimento, que ia longe da paixão. O encontro era só o bom aconchego daqueles que são cúmplices. Comentou o fato dos anos o tornarem parecido com o pai. Ele riu e a olhou de um jeito diferente dizendo que tinha certeza que ela diria aquilo.

O jantar já estava quase na mesa. Correu para o banho. Se livrou do peso do dia. Sentou-se, conversou animadamente. Abriu a primeira latinha e encerrou quase na décima. Deixou de pensar em qualquer coisa insossa. Aproveitou a felicidade das pessoas que amava.

Brincou com a pequenina. Ninou-a nos braços, como nos tempos de bebê. Colocou-a na cama. Ainda conversou um pouco com todos e depois resolveu ir pra cama. O dia havia sido demais para os seus ombros e o cansaço já refletia.

Deitou, percebendo que o dono dos seus olhos adolescentes ainda estava acordado, sentado, fingindo ver tv. Em outros tempos esse seria o sinal para que ela se chegasse. Deitaria no seu peito e vagaria pela noite em pensamentos desconexos. Mas os anos haviam passado e a adolescência ficou pra traz. A vida lhe deu novos planetas e ela já se sentia confortável neles. Achou que não fazia sentido aquele encontro. Adormeceu se sentindo mudada.


Poesia de nós dois, Fundo de Quintal