segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Mulher não disponível

Foi andando com aquele seu jeito. O passo cadenciado. O queixo em pé, mas o olhar vacilante, que para um bom observador isso é sintoma nato de timidez. Já se fizera uma mulher e por isso, a essa altura da vida, administrava muito bem esse seu lado. Uma polidez que até lhe conferia certo charme.

Já ouvira diversos comentários e análises a seu respeito, mas a que ela jamais esqueceu foi: “Você tem cara de mulher não disponível”. Ela nunca havia pensado nisso, mas ficou intrigada. O moço afirmava que ela parecia aquelas mulheres muito simpáticas, bonitas, porém muito bem casadas.

Ela riu, se divertiu com a história, mas refletiu que isso, pra uma mulher solteira, as vezes é um complicador. Gostou e não de gostou.
Em dias de poder, ela adora se imaginar assim.
Em dias de solidão, preferia ter outra transparência.
Mas ela é cristal e não adianta, parece que ele estava certo. Talvez ela nunca consiga se portar, totalmente, como uma moça disponível. Porém a madrugada é a sua casa, a lira, o seu encanto, e a orgia, o seu bem. Já o breu, esse é o seu melhor cúmplice e disfarce.


Beijo Sem (Teresa Cristina e Marisa Monte).