sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Dama da Noite

O moço era medroso, todo católico morria de medo de qualquer espírito que não fosse o santo. A moça de casa também era assim e iam, a família unida, à missa aos domingos. A moça da rua já era cabrocha faceira. Gostava de bar, cerveja e amor até de ponta cabeça. Como era toda boa, vivia de mini-saia e às vezes descuidava dos modos de sentar. Ele não se irritava, mas fingia que sim. No fundo se deliciava. Aguçava a sua imaginação e sempre, quando voltava pro lar, ia pensando em tudo aquilo que era só seu. Só que havia um detalhe, que ambos desconheciam. A moça da rua tinha problemas com esquinas.

Naquela tarde, beberam muitas até o desejo começar saltar aos olhos, mas quando isso aconteceu o tempo já havia findado. Ele tinha que partir. A moça ficou brava e falou, falou e falou. Esqueceu-se já de esconder a calcinha vermelha que ficava sob a saia. Resolveu pegar um cigarro e sair da mesa para fumar. Foi aí que fizeram a descoberta.

Na esquina, a moça fumava e tragava o cigarro com mestria. Nesse momento, mais mulher-dama do que nunca, disse desatinos que jamais teria coragem de dizer, mesmo nos momentos mais embiritados de sua vida. O moço a levou pro carro, insistiu em irem para casa, ela relutou. Deixou-a no bar seguinte e foi embora com o coração na mão, pensando que talvez algum malandro perspicaz desse a ela, naquela noite, o que ele não pode dar.

A moça, coitada, que de mulher-dama não tinha nada, a não ser as suas brasas, dormiu logo depois. No dia seguinte não se lembrava dos ditos. Como haviam testemunhas, ela acabou acreditando. Refletiu e concluiu. “Moça faceira, ébria, fumando em esquina, é tudo o que as damas do além precisam para se saciar”.
Depois dessa, nunca mais fumou em esquinas, nem nas mais inocentes.


Boto meu povo na rua, Martinalia

Um comentário:

Unknown disse...

O QUE A MOÇA DISSE DE TÃO MALVADO QUE DEIXOU O RAPAZ TÃO ASSUSTADO ESTAMOS CURIOSO.RSRS.