sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Providência

O pai acabara de morrer. A sábia velha/jovem mãe reuniu os seis e, com o misto de carinho e dureza que a situação imprimia, disse-lhes: “Agora vocês são os homens da casa. Nós vamos ficar juntos, unir tudo o que temos, e caminhar”. Assim passaram os primeiros tempos de luto.

Pensamentos pesavam, na mesma intensidade que os potes minguavam ao longo dos dias. Ao fim da primeira semana, a filha mais velha dirigiu-se a mãe. Com sua voz ainda infantil disse: “Mamãe fiz o último prato hoje. Não temos para amanhã”. A negra altiva não desesperou na frente da filha. Disse-lhe que tudo ficaria bem. Não dormiu. O dia amanheceu num sábado de sol. Logo pela manhã, uma visita inesperada. Todo mundo correu para ver o carro que encostou. Os três jovens, com o semblante mais inocente do mundo, vinham felizes ver a tia.

Nêgo, o sobrinho mais velho e filho da sua “dinha”, como carinhosamente chamava a madrinha, abriu seu sorriso largo e disse: “Tia, passei no mercado trouxe umas coisas”. A cesta era grande e afastou o desespero que espreitava. Um dia aquela tia lhe comprara um caderno, com a mesma inocência, quando ele, menino, já não mais tinha como estudar.


Rancho da Goiabada, de João Bosco e Aldir Blanc cantado por Elis Regina.

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