quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Dois empregos

Ele tinha dois empregos. Quem diria?
Aos seus olhos ele ainda era o mesmo adolescente esprivitado. O primeiro do bairro a lhes desejar boas-vindas, quando elas se mudaram para o lugar. Aquele que invadiu a festa de aniversário da sua irmã caçula, com o bandeirão do Corinthians, só para fazê-la feliz.

Aonde ele chegava ganhava a simpatia de todos. Na rua, mais parecia vereador, de tanto cumprimento. Hoje já era homem feito, marido de moça de família e pai de dois. A surpresa veio confessa no seu rosto baixo e desconcertado, com o dia clareando a beira do quintal bagunçado, que confirmava festa boa.

Ela, a mais velha e observadora, percebeu que a noite havia sido diferente do habitual. O ar pesava demais, coisa que nunca fora comum. Por fim, na vergonha do rosto de menino, ela decifrou a mensagem que seu coração lhe deu a noite inteira. Os olhos dele marejaram e a boca balbuciou, antes dos detalhes, “você já viu meu carro?”. Naquele instante ela entendeu tudo e sofreu. Escutou calada e só conseguiu dizer: “Aqui você é o amigo de sempre. Se cuida, porque eu não quero notícia ruim”. Deu um abraço forte e, sem sorrisos, fechou o portão.


Numa Cidade Muito Longe Daqui, Leandro Sapucahy e Marcelo D2

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