Ela estava diferente.
Um estado não tão novo, porém desconhecido.
Seus sonhos tinham caminhos estranhos, apesar de bonitos.
Sempre rumavam a ele para sorrir-lhe.
Ele zombava, porém flertava com o novo.
Ele fingia estar de passagem.
Ela fingia acreditar.
Nos dias cheios, o mundo desapercebia os sintomas.
Nos dias vazios, a semente ia crescendo.
No silêncio o embrião ganhava centímetros, peso, feições.
Em hiatos ela acariciava o seu ventre cheio de algo que ainda não sabia.
Sentia, tremulante, que iria parir solidão.
Com o nada passava a entender a fortaleza do tudo.
Da ausência crescia a presença.
Do diferente o semelhante.
Da terra infértil os frutos mais doces.
Sem perceber, compreendia,
que do morto andava espiando a vida.
A vida que não a fitava nos olhos.
A vida que acostumara-se a esquivar-se do feliz.
A vida que intimidava barulhos e ímpetos.
A vida que a fecundou de manso.
A vida que gerava o gêmeo que aconchegaria o sozinho.
Infinito Particular, Marisa Monte.
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