quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Céu nublado

- Já matou a vontade daquele dia?
- Não... – Respondeu ele sob um sorriso silencioso, que ela descobria a cada segundo ser muito singular. Ficaram calados, quase adormecidos, enquanto a mão dela passava pelos cabelos dele, que era todo preguiça e se enroscava como gato pra dormir no seu colo.
- Hoje está nublado. Acho que choveu enquanto dormíamos.
- É...
Mais silêncio e ela solta seu riso irônico, que se ele a conhecesse saberia que se tratava de um prenúncio de aborrecimento.
- Meninos são muito diferentes. Enquanto falamos sobre vontade, vocês falam sobre o tempo.

Silêncio, silêncio, silêncio. Ele resolveu fumar um cigarro. Ela ficou de bobeira no colchão, conversando com seus pensamentos. Arrastaram-se segundos, ela não resistiu e foi para a porta da cozinha. Puxou um assunto desinteressado que lhe rendeu mais detalhes sobre a vida dele. A buzina do carro soou. Momento de ir. O ar desconcertado da casa conflitava com a alegria das visitantes. Saiu apressada.

O sorriso dele, que ela não conseguia esquecer, e o beijo no portão sugerindo ao imaginário que talvez existisse alguma chance. Foi embora pensando no contra. O a favor lhe mostrava que ele simplesmente era assim, solitário, só dele. Lembrou-se do acolhedor da madrugada. Rumou para novos ares sem entender muito o que se passava. As horas foram maturando.

Quando a tarde caiu, ela resolveu ligar. Ele atendeu com o jeito espontâneo de sempre, deixando transparecer tudo o que ela adorava. A menina, meio sem jeito por sua agonia matutina, se desculpou. Ele, com a alma leve dos moços inocentes, afirmou que estava tudo bem. O seu coração ficou mais feliz e a noite ganhou cadência.


Sutilmente, Skank.

2 comentários:

Mikaellis disse...

Às vezes os meninos falam das vontades falando do tempo, por não saberem realmente falar delas ou por não saberem realmente quais são elas...
Meninos são complicados. Bentinhos.
Meninas também. Capitus.

Tatiane Marchesan disse...

Meninos são Bentinhos.
Meninos me parecem mais solitários nos sentimentos. Mais malucos na fantasia interna...