segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Borbulhante

O sono não foi tranquilo. Nada amornou seu coração, tudo estava em estado borbulhante. Já não sabia mais o que preferia: inércia ou incomodo. Alguns estranharam o seu silêncio, mas ela alegou cansaço. Dormiu sua noite mal dormida. Novamente assumiu o volante pela manhã, mas dessa vez não tinha cantoria, só o melancólico quis acompanhá-la.

Pensou durante o caminho inteiro sobre o que deveria fazer. Sabia que estava tudo errado. O sofrimento de todos os dias já lhe mostrava e a covardia dele frente ao amor também. Sempre iria faltava coragem, mas, por mais que ela negasse, aquele Donald trapalhão era o dono de todos os seus melhores sorrisos. E ela tinha certeza de que a Margarida dessa história era ela. Blasfemou contra a convenção e seguiu dirigindo.

Não havia jeito. Dessa vez ele mesmo tomou a decisão de seguir o caminho certo e acabar com tudo. O que ela pensava, naquele instante, era se suportaria a gentileza de uma simples amizade. Achava que a convivência faria ela sofrer o dobro pela ausência. Decidiu que não era forte o suficiente para aquilo.

Desceu do carro, quase ofegante por tanta urgência, e ligou para o número que já havia deletado da memória do celular. Do outro lado atendeu o timbre preferido dos seus ouvidos e isso foi o suficiente para que todos os seus sentidos reconhecessem os sinais. Quase se desesperou.
– Oi minha menina. Já chegou? Tudo bem?
- Então... Liguei porque estive pensando.
- O que foi?
- Eu não quero manter contato. Gosto demais de tudo pra conviver assim.
- Não acho necessário, mas se você quiser, eu respeito.
- Eu quero.
- Escrevi pra você agora pouco.
- Bacana, depois eu leio. Tchau, um beijo.
- Tchau.

Entrou no metrô sem sentir o chão. Voltou a si gradativamente, porém mais forte. As horas se arrastaram lacrimosas. O amigo do dia anterior e que tanto frenessi despertará, nem deu sinais. Ela esperava mendingante sua ligação, pois seria muito bom uma cerveja acompanhada de novos sorrisos. Quando já fazia noite alta, resolveu ligar. Ele, depois de alguma hesitação, desmarcou o encontro combinado. Ela foi pra casa triste e decidida a não procurá-lo no dia seguinte. Ao chegar se deparou com aquele, que distante dos outros dois, conhecia os seus olhares melhor do que qualquer outro. Ainda não sabia o que enxergava na névoa naquela noite.


Samba de Amor e Ódio, Roberta Sá.

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