terça-feira, 30 de junho de 2009

Emagreceu. Amarelou. Enegreceu

Se dispôs a emagrecer. Emagrecer. Emagrecer, amarelo. Emagrecer, cadavérico.
Tudo culpa daquele show. Ela saiu obstinada. Emagrecer. Emagrecer...
Imaginou imensas saias. Cabelos curtos, talvez azuis como os da menina ao lado, e piercings, como os da do outro lado. Haviam lá também gordinhas saudáveis, simpáticas, com longas madeixas e abertos sorrisos. Mas ela não! Ela seria magra. Com olheiras fundas. Semblante distante e cheiro... Não! Cheiro, não haveria. Agora ela sentia cheiro de amendoim. Amendoim cheira bem. Ela decidiu. Cheiraria amendoim! Nada convencional, uma morta-viva com cheiro de amendoim.
Dormiu sem comer. Acordou sem comer. Assim seguiu. Suas olheiras se tornaram permanentes. Anorexia detectaram. Ela queria pular de alegria. Enfim era magra. Não conseguiu.
O cheiro de amendoim. Somente nas suas narinas. “Eu. Queria tanto encontrar. Uma pessoa como eu. Pra quem eu possa confessar. Alguma coisa sobre mim.”, cantarolava freneticamente na sua cabeça. A boca já não balbuciava mais...
Amarelou. Enegreceu. Virou pó, cantando Eu.

Metrô Trianon-Masp, 03 de dezembro de 2002, após um show do Pato Fu.


Eu, Pato Fu

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