quinta-feira, 24 de março de 2011

Seguro

Já era dia seguinte. Ela acordou diferente, como andava diferente essa moça nos últimos dias. Olhou para o calendário. O coração apertou-se de saudade. Era um tempão para sua urgência de viver. Calculou, calculou. Fez o relógio enlouquecer e a vida dar um nó. Espremeu possibilidades. Encontrou a perfeita. Mas não havia o perfeito, pois não havia o recíproco. Não havia par. Era vontade única. Era a sua mente, os seus sentidos e o seu coração que se agitavam sozinhos em uníssono, em uma canção somente sua.

Olhou para a janela, a tarde já caia. Sentiu uma imensa saudade do que não viveu. Recolheu, sozinha, os seus sorrisos soltos que andavam passeando a esmo. Recompôs a sua órbita serena. Inseriu o seu planeta no velho ciclo. Fez isso, mesmo enquanto todo o resto do seu interior implorava para fugir no último bondinho, rumo ao pôr-do-sol, ansioso por ver o céu alaranjado e os pássaros brincando em bando próximos à montanha. Fez isso, mesmo quando todos os seus sentidos suplicavam pelo silêncio em dueto, quando seus poros pediam aquela mesma metade que adormeceu no seu ombro, enquanto ela acarinhava e velava seu sono, no meio de uma multidão.

Fez isso sem saber o certo. Fez isso sabendo o seguro.


O último pôr-do-sol - Lenine

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