quinta-feira, 17 de março de 2011

Fogo de Rei. Majestade de Rainha

O tempo soprava ventania, maquiava tempestade. Oxum, astuta, vestiu-se de cobre, misturou suas jóias e saiu como sua irmã. Na noite que despontava, havia festa, beleza, havia guerra de paz, havia deboche, havia sensualidade. Inhasã, apesar das desavenças com Oxum, gostou do que viu e resolveu brincar de brisa. Saíram ambas, ladeira abaixo a zombar dos olhares que não as reconheciam em um corpo só.

Misturadas traziam o melhor de cada uma: a ousadia do vento, que não pede permissão e invade todos os espaços, e a sensualidade da cachoeira reluzente, que acaricia e enfeitiça os que se deitam sob ela.

Atraindo olhares, passeavam por todos os deuses pagãos que se divertiam na festa junto aos mortais, mas ninguém as reconhecia. Elas, por sua vez, apenas sorriam de um jeito meio menina, meio mulher. Foi aí que cruzaram com três homens. Um dos mortais as parou, pensando ser uma única, elas lhe sorriram e conversaram como uma mulher qualquer, porém entre eles havia um rei. O único que já desposara as duas, aquele que perdia a cabeça por ambas e, também, o único que as dominava com sua firmeza.

Sem pedir licença, ignorando o pobre mortal, o rei lançou-lhes as palavras certas. Exalou o seu cheiro, o seu poder. A força do seu fogo que leva para o seu reino tudo o que ele deseja, que transforma, em sua, toda mulher que ele escolhe.

Quando ele tirou-lhes a máscara de cobre e sentiu o gosto das duas, fez com que elas, naquele exato momento, se fundissem pra sempre. Não era mais Oxum, não era mais Inhasã, era Opará, uma terceira deusa, nascendo para o seu Xangô, o seu rei soberano. Surgiu ali uma jovem majestosa que, de mãos dadas com o fogo, saiu a rir de um jeito só dela, exibindo sua fresca beleza misturada aos mortais.

Sem que o mundo notasse, a chama de Xangô se acendeu e lançou na festa o seu fogo, o fogo que jamais finda. Opará, sendo meio vento, meio água, apagava e tornava a acender tudo o que mais amava em seu rei.

Foi em meio a essas brasas que os dois sumiram na multidão. Nunca mais foram vistos, mas são sentidos toda vez que corpos ardem em um desejo que jamais sucumbe. É assim que Opará e Xangô vivem nessa terra de mistérios. Foi assim que eles se eternizaram.


Oxum Opará

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